terça-feira, 24 de abril de 2012

Eu odeio ler – e agora, José?


Uma vez, um aluno me chamou logo após o término da aula, todo angustiado em busca de uma solução para o seu grande dilema: em plena época de vestibular (com 9 livros obrigatórios na lista da Fuvest) a sua aversão pela leitura não diminuía.
Eu, inocentemente, perguntei:
- Mas que tipo de obra você não gosta de ler?
- Qualquer uma que tenha letras.
O caso do meu aluno é mais um entre tantos outros – basta ver o relatório da leitura no Brasil, que veio à tona na mídia neste começo de ano e deixou em evidência que nossos jovens leem cada vez menos. Contudo, mais que repensar a atitude dos estudantes, compensa refletir um pouco sobre o nosso discurso enquanto docentes.
Todo professor de português garante que ler faz bem. Mas será que aprovamos as leituras que nossos alunos fazem? Eu já fui recriminada por ler o Diário de uma Princesa em minha época de vestibulanda, Chico Bento quando estava na escola e Paulo Coelho nos meus anos de faculdade de Letras. Nós incentivamos a leitura de nossos alunos apenas quando está de acordo com os nossos interesses, apenas quando corresponde à dita “literatura”. No entanto, quem define o cânone? Quem decide o que é literário e o que é lixo cultural?


A minha resposta ao dilema do aluno foi afirmar que qualquer leitura era válida. Para provar que não existe pessoa que não goste de ler, fiz a seguinte sondagem:
- Você gosta de filmes? De todos os filmes que existem ou de alguns gêneros? Você acha que existe alguém que não goste de nenhum filme do mundo?
- Você gosta de música? Até de ópera e salsa? Todos nós gostamos de pelo menos um tipo de música? É quase impossível alguém gostar de todos os estilos musicais com a mesma paixão?
- E leitura? Se sempre gostamos de pelo menos um tipo de música e filme, será que não há nada escrito que corresponda ao seu gosto?
Com um pouco de jeito, descobri que ele não odiava todas as letras – gibis e mangás, por exemplo, lhe pareciam mais interessantes. Há leituras obrigatórias das quais não podemos escapar, seja no vestibular ou em um concurso público. Contudo, em outros contextos, nossa função de professores de língua é estimular o desenvolvimento de competências e ferramentas textuais básicos – o que se pode fazer tanto com livros de piada quanto com Machado de Assis. E, sem trabalhar o básico, nunca chegaremos às capacidades avançadas de leitura – estas sim, envolvendo os livros ditos literários e algunas cositas más.

Um comentário:

  1. Já tentei ler de tudo, não achei Nada que eu goste... Eu realmente odeio ler mas gostaria de gostar, deu maior trabalho para ler esse artigo e acredite eu nem li até o final.

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