FGV 2010
Texto para as questões 1 e 2
A fôrma e as ideias
Restringe-se quase apenas à classe dos linguistas a
expectativa pela estreia, hoje, de mais uma reforma ortográfica no Brasil. As
mudanças por ora são ignoradas pela maioria da população brasileira e terão
impacto reduzido no cotidiano: a cada mil palavras utilizadas, cinco serão alteradas.
Pensado para unificar a linguagem escrita nos países
lusófonos, o Acordo Ortográfico produz muito barulho por quase nada. Seu impacto
estará concentrado na burocracia diplomática – não será mais necessário
“traduzir” documentos para as diversas grafias nacionais do idioma – e no mercado
editorial, que vai movimentar-se nos próximos anos para adaptar livros e
dicionários ao novo padrão.
A ortografia que está sendo substituída não constitui
barreira para a compreensão de textos escritos no padrão de outro país.
Dificuldades maiores são oferecidas pela construção das frases e pelo
vocabulário mobilizado nas diversas regiões em que se fala o idioma.
Somente a experiência da leitura sistemática e a exposição
constante a textos e tradições
nacionais, regionais e históricas diversas podem levar à
superação desses obstáculos. A nova ortografia altera algumas fôrmas das
ideias, jamais seu conteúdo.
Folha de S. Paulo, 01/01/2009. Adaptado.
1. Indique, no quadro, as características
predominantes do texto, quanto aos aspectos
relacionados:
Conteúdo Estilo Gênero
A informativo prolixo reportagem
B científico complexo artigo científico
C expositivo literário crônica
D opinativo conciso editorial
E irreverente coloquial carta de leitor
Resposta: d
2. Segundo o texto, as mudanças propiciadas pelo
Acordo Ortográfico afetam, de maneira mais evidente, além do mercado editorial,
a
A comunicação oficial entre os países de língua
portuguesa.
B sintaxe e o léxico de cada dialeto do português.
C leitura das principais obras do mundo lusófono.
D teoria linguística formulada pelos cientistas da
língua.
E pronúncia das pessoas que têm pouca escolaridade.
Resposta: a
INSPER 2009
Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 3 a 5.
Nova ortografia, velhos dizeres
É oficial: entrou em vigor a nova ortografia. Quer dizer:
mais ou menos em vigor.
É a única do mundo legislada. Os brasileiros temos pouca
intimidade com as vigorações. Há sempre um amanhã, um depois de amanhã e,
graças a Deus, um Dia de São Nunca, as calendas (ver dizeres populares em
extinção).
Depois de anos caitituando Angola, São Tomé e Príncipe,
Cabo Verde, Guiné-Bissau (olha o hífen!), Moçambique e Timor-Leste (eu disse
que é pra olhar o hífen!), para não falar em Portugal, que andou pisando na bola
(ver dizeres em extinção), o Brasil finalmente, mediante quatro decretos
promulgados, assinados por presidente da república, conseguiu fazer com que uns
bons 250 milhões de pessoas escrevam de forma idêntica.
Quer dizer: mais ou menos idêntica. Primeiro, porque
dessas 250 milhões de pessoas apenas uns 15% são vagamente alfabetizadas.
Desses 15%, pelo menos 10% é de nacionalidade portuguesa. Mas que 15%! É para
elas que se legislou. Quer dizer: mais ou menos se legislou. Há dúvidas e
indecisões em massa. Principalmente nos meios alfabetizados, por assim dizer.
Porque o hífen isso e o trema aquilo e o acento agudo esse
e o circunflexo aquele e pororó, pão duro coisa e tal (ver dizeres populares em
extinção).
De certo, sabe-se uma coisa: o decreto-lei para os hífens
e seu uso, que entrou em vigor no primeiro dia de janeiro de 2009, tem até
2012, ou 2021, talvez até 3033, para ser adotado à vera (ver dizeres em
extinção) entre a chamada CPLP, a digníssima Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, ou os Oito Magníficos Países de Ouro, como são conhecidos nos meios
lexicográficos mundiais.
De garantido, pode-se afirmar que essa nova ortografia
(quer dizer: mais ou menos um acordo, ou um decreto, ou uma lei) vai dar um
dinheirão e muita gente boa vai pegar uma nota preta e sair pela aí (ver
dizeres públicos em extinção), pelos países da doce língua de Camões e Paulo
Coelho, montada na burra do dinheiro. (...)
(Lessa, Ivan. oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/01/02/)
3. Com base no texto, não é correto afirmar que
(a) no trecho “...250 milhões de pessoas escrevam de forma
idêntica. Quer dizer: mais ou menos idêntica.”, o autor enfatiza que, no
Brasil, um país democrático, os cidadãos são livres para escreverem como querem
desde que se comuniquem de forma eficiente.
(b) a falta de uniformidade no uso das regras ortográficas
resulta, entre outros fatores, da desinformação e do analfabetismo funcional
que ainda atinge parcela significativa da população.
(c) com a ressalva “quer dizer: mais ou menos um acordo,
ou um decreto, ou uma lei”, o escritor salienta a indefinição daquilo que foi
estabelecido no país acerca das mudanças na língua portuguesa.
(d) com as frases “mais ou menos em vigor” e “...temos
pouca intimidade com as vigorações”, o autor ironiza a flexibilidade com que as
leis são respeitadas no Brasil.
(e) As mudanças constantes da oralidade são marcadas pelas
ressalvas do autor em “ver dizeres populares em extinção”.
4. “ pode-se afirmar que essa nova ortografia (...) vai
dar um dinheirão...”. Tendo em vista a sua classificação morfológica, o termo
grifado repete-se em:
(a) “... para não falar em Portugal, que andou pisando na
bola...”
(b) “...eu disse que é pra olhar o hífen!”
(c) “...decreto-lei para os hífens e seu uso, que entrou
em vigor...”
(d) “É para elas que se legislou.”
(e) “...Cale-se, que a regra deve sempre prevalecer! ”
5. Preencha a lacuna com porque, porquê, por que, por
quê: “Nunca nos perguntaram _____ cometemos tamanho equívoco. Talvez _____ não
quisessem ouvir a verdade. Os _____ doem às vezes.”
(a) por que, porque, porquês
(b) porque, porque, porquês
(c) por que, por que, por quês
(d) porquê, por que, porquês
(e) porque, porque, por quês
6. A
mesma figura de linguagem presente em “Os brasileiros temos pouca intimidade
com as vigorações.” repete-se em:
(a) “Nova ortografia, velhos dizeres.”
(b) “Brasília é uma estrela espatifada.”
(c) “O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford.”
(d) “Coisa curiosa é aquela gente! Divertem-se com tão
pouco...”
(e) “Quer dizer: mais ou menos idêntica”.
UNICAMP 2009
7. Reportagem da Folha de São Paulo informa
que o presidente do Brasil assinou decreto estabelecendo prazos para o país
colocar em prática o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que unifica
a ortografia nos países de língua portuguesa. Na matéria, o seguinte quadro
comparativo mostra alterações na ortografia estabelecidas em diferentes datas:
Após as reformas de 1931 e 1943: Êles estão tranqüilos,
porque provàvelmente não crêem em fantasmas.
Após as alterações de 1971: Eles estão tranqüilos,
porque provavelmente não crêem em
fantasmas.
Após o novo acordo, a vigorar a partir de janeiro de
2009: Eles estão tranquilos, porque provavelmente não creem em fantasmas.
Sobre o acordo, a reportagem ainda informa:
As regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, que entram em vigor no Brasil a partir de janeiro de 2009, vão
afetar principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen.
Cuidado: segundo elas, você não poderá mais dizer que foi mordido por uma
jibóia, e sim por uma jiboia. (...)
(Adaptado de E. Simões,
“Que língua é essa?”. Folha de S.Paulo, Ilustrada, p. 1, 28/09/2008.)
a) O excerto acima supõe que alterações ortográficas
modifiquem o modo de falar uma língua. Mostre a palavra utilizada que permite
essa interpretação. Levando-se em consideração o quadro comparativo das
mudanças ortográficas e a suposição expressa no excerto, explique o equívoco
dessa suposição.
Ainda sobre a reforma ortográfica, Diogo Mainardi
escreveu o seguinte:
Eu sou um ardoroso defensor da reforma ortográfica.
A perspectiva de ser lido em Bafatá, no interior da Guiné-Bissau, da mesma
maneira que sou lido em Carinhanha, no interior da Bahia, me enche de
entusiasmo. Eu sempre soube que a maior barreira para o meu sucesso em Bafatá
era o C mudo [como em facto na ortografia de Portugal] (...)
(D. Mainardi, “Uma
reforma mais radical”. Revista VEJA, p. 129, 8/10/2008.)
b) O excerto acima apresenta
uma ironia. Em que consiste essa ironia? Justifique.
UNICAMP 2010
a) Qual é o pressuposto da
personagem que defende o acordo ortográfico entre os países de língua
portuguesa? Por que esse pressuposto é inadequado?
b) Explique como, na tira ao
lado, esse pressuposto é quebrado.
Resposta na página 1 - http://gabarito.blog.poteinterativo.com.br/media/editor/files/gram%C3%A1tica%20fabricio.pdf
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