segunda-feira, 26 de março de 2012

A cidade e as serras (Eça de Queirós) - Banco de Questões




FUVEST 1995
 
"Maurício saudou, com silenciosa admiração, esta minha avisada malícia. E imediatamente, para o meu Príncipe:
- Há três anos que não te vejo, Jacinto... Como tem sido possível, neste Paris que é uma aldeola, e que tu atravancas?"
[EÇA DE QUEIRÓS. “A Cidade e as Serras”]
 
a) Transponha para o discurso indireto o excerto acima, fazendo as adaptações necessárias.
b) Justifique, agrupando-as em dois blocos, as alterações realizadas.
 
(Resposta em
 
FUVEST 1995
 
Os romances de Eça de Queirós costumam apresentar críticas a aspectos importantes da sociedade portuguesa, freqüentemente acompanhadas de propostas (explícitas ou implícitas) de reforma social. Em A Cidade e as Serras:
 
a) qual o aspecto que se critica nas elites portuguesas?
b) qual é a relação, segundo preconiza o romance, que essas elites deveriam estabelecer com as classes subalternas?
 

FUVEST 2007
 
Considere as seguintes afirmações:

I. Assim como Jacinto, de "A cidade e as serras", passa por uma verdadeira "ressurreição" ao mergulhar na vida rural, também Augusto Matraga, de "Sagarana", experimenta um "ressurgimento" associado a uma renovação da natureza.
II. Também Fabiano, de "Vidas secas", em geral pouco falante, experimenta uma transformação ligada à natureza: a chegada das chuvas e a possibilidade de renovação da vida tornam-no loquaz e desejoso de expressar-se.
III. Já Iracema, quando debilitada pelo afastamento de Martim, não encontra na natureza forças capazes de salvar-lhe a vida.
 
Está correto o que se afirma em
a) I, somente.
b) II, somente.
c) I e III, somente.
d) II e III, somente.
e) I, II e III.
 
Resposta: e
 
FUVEST 2007
 
Considerado no contexto de "A cidade e as serras", o diálogo presente no excerto revela que, nesse romance de Eça de Queirós, o elogio da natureza e da vida rural
a) indica que o escritor, em sua última fase, abandonara o Realismo em favor do Naturalismo, privilegiando, de certo modo, a observação da natureza em detrimento da crítica social.
b) demonstra que a consciência ecológica do escritor já era desenvolvida o bastante para fazê-lo rejeitar, ao longo de toda a narrativa, as intervenções humanas no meio natural.
c) guarda aspectos conservadores, predominantemente voltados para a estabilidade social, embora o escritor mantenha, em certa medida, a prática da ironia que o caracteriza.
d) serve de pretexto para que o escritor critique, sob certos aspectos, os efeitos da revolução industrial e da urbanização acelerada que se haviam processado em Portugal nos primeiros anos do Século XIX.
e) veicula uma sátira radical da religião, embora o escritor simule conservar, até certo ponto, a veneração pela Igreja Católica que manifestara em seus primeiros romances.
 
Resposta: c

FUVEST 2008
 
Considere as seguintes afirmações sobre três obras literárias:

Na primeira obra, o catolicismo apresenta-se como religião absoluta, cujos princípios sólidos mais sobressaem ao serem contrapostos às desordens humanas. Na segunda obra, diferentemente, ele aparece como religião relativamente maleável, cujos preceitos as personagens acabam por adaptar a seus desejos e conveniências, sem maiores problemas de consciência subseqüentes. Já na terceira obra, o catolicismo comparece sobretudo como parte de um resgate mais amplo de valores familiares e tradicionais, empreendido pelo protagonista.
 
Essas afirmações referem-se, respectivamente, às seguintes obras:
a) "Dom Casmurro", "Memórias de um sargento de milícias" e "Auto da barca do inferno".
b) "Memórias de um sargento de milícias", "A hora e vez de Augusto Matraga" e "Vidas secas".
c) "A hora e vez de Augusto Matraga", "A cidade e as serras" e "Memórias de um sargento de milícias".
d) "Auto da barca do inferno", "Dom Casmurro" e "A cidade e as serras".
e) "A cidade e as serras", "Vidas secas" e "Auto da barca do inferno".

Resposta: d

FUVEST 2009

Leia o trecho de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.

Então, de trás da umbreira da taverna, uma grande voz bradou, cavamente, solenemente:
- Bendito seja o Pai dos Pobres!
E um estranho velho, de longos cabelos brancos, barbas brancas, que lhe comiam a face cor de tijolo, assomou no vão da porta, apoiado a um bordão, com uma caixa a tiracolo, e cravou em Jacinto dois olhinhos de um brilho negro, que faiscavam. Era o tio João Torrado, o profeta da serra... Logo lhe estendi a mão, que ele apertou, sem despegar de Jacinto os olhos, que se dilatavam mais negros. E mandei vir outro copo, apresentei Jacinto, que corara, embaraçado.
- Pois aqui o tem, o senhor de Tormes, que fez por aí todo esse bem à pobreza.
O velho atirou para ele bruscamente o braço, que saía, cabeludo e quase negro, de uma manga muito curta.
- A mão!
E quando Jacinto lha deu, depois de arrancar vivamente a luva, João Torrado longamente lha reteve com um sacudir lento e pensativo, murmurando:
- Mão real, mão de dar, mão que vem de cima, mão já rara!
[...] Eu então debrucei a face para ele, mais em confidência:
- Mas, ó tio João, ouça cá! Sempre é certo você dizer por aí, pelos sítios, que el-rei D. Sebastião voltara?
Eça de Queirós. A cidade e as serras.

a) No trecho, Jacinto é chamado, pelo velho, de “Pai dos Pobres”. Essa qualificação indica que Jacinto mantinha com os pobres da serra uma relação democrática e igualitária? Justifique sua resposta.

 b) Tendo em vista o contexto da obra, explique sucintamente por que o narrador, no final do trecho, se refere a “el-rei D. Sebastião”.


FUVEST 2010

(...) É uma bela moça, mas uma bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para isso a fez a Natureza, assim sã e rija; e ela cumpre. O marido todavia não parece contente, porque a desanca. Também é um belo bruto... Não, meu filho, a serra é maravilhosa e muito grato lhe estou... Mas temos aqui a fêmea em toda a sua animalidade e o macho em todo o seu egoísmo...
Eça de Queirós, A cidade e as serras.

Neste excerto, o julgamento expresso por Jacinto, ao falar de um casal que o serve em sua quinta de Tormes, manifesta um ponto de vista semelhante ao do

a) Major Vidigal, de Memórias de um sargento de milícias, ao se referir aos desocupados cariocas do tempo do rei.
b) narrador de Iracema, em particular quando se refere a tribos inimigas e a franceses.
c) narrador de Vidas secas, principalmente quando ele enfoca as relações sexuais de Fabiano e Sinha Vitória.
d) Anjo, do Auto da barca do inferno, ao condenar os pecados da carne cometidos pelos humanos.
e) narrador de O cortiço, especialmente quando se refere a personagens de classes sociais inferiores.


FUVEST 2011
 
Considere a seguinte alienação: Ambas as obras criticam a sociedade mas apenas a segunda milita pela subversão da hierarquia social nela representada. Observada a sequência, essa afirmação aplica-se a

a) A cidade e as serras e Capitães da areia.
b) Vidas secas e Memórias de um sargento de milicias.
c) O cortiço e Iracema.
d) Auto da barca do inferno e A cidade e as serras.
e) Iracema e Memórias de um sargento de milícias.

Resposta: a
 
FUVEST 2011
 
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra
 
a) Auto da barca do inferno, são representados os judeus, marginalizados na sociedade portuguesa medieval.
b) Memórias de um sargento de milícias, são figuradas Luisinha e as crias da casa de D. Maria.
c) Dom Casmurro, são figurados os escravos da casa de D. Glória.
d) A cidade e as serras, são representados os camponeses de Tormes.
e) Vidas secas, são figurados Fabiano, sinha Vitória e os meninos.

Resposta: e
 
FUVEST 2011
 
O papel desempenhado pela personagem Ritinha (Rita Baiana), no processo sintetizado no excerto, assemelha-se ao da personagem

a) Iracema, do romance homônimo, na medida em que ambas simbolizam o poder de sedução da terra brasileira sobre o português que aqui chegava.
b) Vidinha, de Memórias de um sargento de milícias, tendo em vista que uma e outra constituem fatores decisivos para o desencaminhamento de personagens masculinas anteriormente bem orientadas.
c) Capitu, de Dom Casmurro, a qual, como a baiana, também lança mão de seus encantos femininos para obter ascensão social.
d) Joaninha, de A cidade e as serras, pois ambas representam a simplicidade natural das mulheres do campo, em oposição à beleza artificiosa das mulheres das cidades.
e) Dora, de Capitães da areia, na medida em que ambas são responsáveis diretas pela regeneração física e moral de seus respectivos pares amorosos.

Resposta: a
 
FUVEST 2011
 
Tendo em vista o conjunto de proposições e teses desenvolvidas em A cidade e as serras, pode-se concluir que é coerente com o universo ideológico dessa obra o que se afirma em:
 
a) A personalidade não se desenvolve pelo simples acúmulo passivo de experiências, desprovido de empenho radical, nem, tampouco, pela simples erudição ou pelo privilégio.
b) A atividade intelectual do indivíduo deve-se fazer acompanhar do labor produtivo do trabalho braçal, sem o que o homem se infelicita e desviriliza.
c) O sentimento de integração a um mundo finalmente reconciliado, o sujeito só o alcança pela experiência avassaladora da paixão amorosa, vivida como devoção irracional e absoluta a outro ser.
d) Elites nacionais autênticas são as que adotam, como norma de sua própria conduta, os usos e costumes do país profundo, constituído pelas populações pobres e distantes dos centros urbanos.
e) Uma vida adulta equilibrada e bem desenvolvida em todos os seus aspectos implica a participação do indivíduo na política partidária, nas atividades religiosas e na produção literária.
 
Resposta: a

FUVEST 2011

Leia o excerto de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
Era um domingo silencioso, enevoado e macio, convidando às voluptuosidades da melancolia. E eu (no interesse da minha alma) sugeri a Jacinto que subíssemos à basílica do Sacré-Coeur, em construção nos altos de Montmartre. (...) Mas a basílica em cima não nos interessou, abafada em tapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova, ainda sem alma. E Jacinto, por um impulso bem jacíntico, caminhou gulosamente para a borda do terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície cinzenta, a
cidade jazia, toda cinzenta, como uma vasta e grossa camada de caliça* e telha. E, na sua
imobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo**, mais tênue e ralo que o fumear de um escombro mal apagado, era todo o vestígio visível de sua vida magnífica.

*Caliça: pó ou fragmentos de argamassa ressequida, que sobram de uma construção ou resultam da demolição de uma obra de alvenaria.
**Fumo: fumaça.

a) Em muitas narrativas, lugares elevados tornam-se locais em que se dão percepções
extraordinárias ou revelações. No contexto da obra, é isso que irá acontecer nos “altos de
Montmartre”, referidos no trecho? Justifique sua resposta.

b) Tendo em vista o contexto histórico da obra, por que é Paris a cidade escolhida para representar a vida urbana? Explique sucintamente.

c) Sintetizando-se os termos com que, no excerto, Paris é descrita, que imagem da cidade finalmente se obtém? Explique sucintamente.


(Respostas em http://www.curso-objetivo.br/vestibular/resolucao_comentada/fuvest/2011_2fase/1dia/fuvest2011_2fase_1dia.pdf) - página 8

FUVEST 2012

Leia o excerto de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.


Na sala, a tia Vicência ainda nos esperava desconsolada, entre todas as luzes, que ardiam no silêncio e paz do serão debandado:
_ Ora uma coisa assim! Nem querem ficar para tomar um copinho de geleia, um cálice de vinho do Porto!
_ Esteve tudo muito desanimado, tia Vicência! _ exclamei desafogando o meu tédio. _ Todo esse mulherio emudeceu, os amigos com um ar desconfiado...
Jacinto protestou, muito divertido, muito sincero:
_ Não! Pelo contrário. Gostei imenso. Excelente gente! E tão simples... Todas estas raparigas me pareceram ótimas. E tão frescas, tão alegres! Vou ter aqui bons amigos, quando verificarem que eu não sou miguelista.
Então contamos à tia Vicência a prodigiosa história de D. Miguel escondido em Tormes... Ela ria! Que coisas! E mau seria...
_ Mas o Sr. Jacinto, não é?
_ Eu, minha senhora, sou socialista...


a) Defina sucintamente o miguelismo a que se refere o texto e indique a relação que há entre essa corrente política e a história do Brasil.


b) Tendo em vista o contexto da obra, explique o que significa, para Jacinto, ser “socialista”.


FUVEST 2012


Tendo em vista o conjunto de proposições e teses desenvolvidas em A cidade e as serras, pode-se concluir que é coerente com o universo ideológico dessa obra o que se afirma em:


a) A personalidade não se desenvolve pelo simples acúmulo passivo de experiências, desprovido de empenho radical, nem, tampouco, pela simples erudição ou pelo privilégio.
b) A atividade intelectual do indivíduo deve-se fazer acompanhar do labor produtivo do trabalho braçal, sem o que o homem se infelicita e desviriliza.
c) O sentimento de integração a um mundo finalmente reconciliado, o sujeito só o alcança pela experiência avassaladora da paixão amorosa, vivida como devoção irracional e absoluta a outro ser.
d) Elites nacionais autênticas são as que adotam, como norma de sua própria conduta, os usos e costumes do país profundo, constituído pelas populações pobres e distantes dos centros urbanos.
e) Uma vida adulta equilibrada e bem desenvolvida em todos os seus aspectos implica a participação do indivíduo na política partidária, nas atividades religiosas e na produção literária.


(Resposta comentada em http://www.oficinadoestudante.com.br/sistemaNews/uploads/imagens_correcoes/correcao_online_oficinadoestudante_fuvest_2011_677.pdf)

Unicamp 2010

Leia o trecho abaixo de A cidade e as serras:


– Sabes o que eu estava pensando, Jacinto?... Que te aconteceu aquela lenda de Santo Ambrósio... Não, não era Santo Ambrósio... Não me lembra o santo. Ainda não era mesmo santo, apenas um cavaleiro pecador, que se enamorara de uma mulher, pusera toda a sua alma nessa mulher, só por a avistar a distância na rua. Depois, uma tarde que a seguia, enlevado, ela entrou num portal de igreja, e aí, de repente, ergueu o véu, entreabriu o vestido, e mostrou ao pobre cavaleiro o seio roído por uma chaga! Tu também andavas namorado da serra, sem a conhecer, só pela sua beleza de verão. E a serra, hoje, zás! de repente, descobre a sua grande chaga... É talvez a tua preparação para S. Jacinto.
(Eça de Queirós, As cidades e as serras. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007, p. 252.)


a) Explique a comparação feita por Zé Fernandes. Especifique a que chaga ele se refere.


b) Que significado a descoberta dessa chaga tem para Jacinto e para a compreensão do romance?


(Respostas em http://www.curso-objetivo.br/vestibular/resolucao_comentada/unicamp/2010_2fase/1dia/unicamp2010_2fase_1dia.pdf) - página 11



 
Unicamp 2012

Os trechos a seguir foram extraídos de A cidade e as serras, de Eça de Queirós.

Mas dentro, no peristilo, logo me surpreendeu um elevador instalado por Jacinto – apesar do 202 ter somente dois andares, e ligados por uma escadaria tão doce que nunca ofendera a asma da Srª. D. Angelina! Espaçoso, tapetado, ele oferecia, para aquela jornada de sete segundos, confortos numerosos, um divã, uma pele de urso, um roteiro das ruas de Paris, prateleiras gradeadas com charutos e livros. Na antecâmera, onde desembarcamos, encontrei a temperatura macia e tépida duma tarde de Maio, em Guiães. Um criado, mais atento ao termômetro que um piloto à agulha, regulava destramente a boca dourada do calorífero. E perfumadores entre palmeiras, como num terraço santo de Benares, esparziam um vapor, aromatizando e salutarmente umedecendo aquele ar delicado e superfino.
Eu murmurei, nas profundidades do meu assombrado ser:
– Eis a Civilização!
– Meus amigos, há uma desgraça...
Dornan pulou na cadeira: – Fogo?
– Não, não era fogo. Fora o elevador dos pratos que inesperadamente, ao subir o peixe de S. Alteza, se desarranjara, e não se movia, encalhado!
(...)
O Grão-Duque lá estava, debruçado sobre o poço escuro do elevador, onde mergulhara uma vela que lhe avermelhava mais a face esbraseada. Espreitei, por sobre o seu ombro real. Em baixo, na treva, sobre uma larga prancha, o peixe precioso alvejava, deitado na travessa, ainda fumegando, entre rodelas de limão. Jacinto, branco como a gravata, torturava desesperadamente a mola complicada do ascensor. Depois foi o Grão-Duque que, com os pulsos cabeludos, atirou um empuxão tremendo aos cabos em que ele rolava. Debalde! O aparelho enrijara numa inércia de bronze eterno.
(Eça de Queirós, A cidade e as serras. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006, p. 28, p. 63.)

a) Levando em consideração os dois trechos, explique qual é o significado do enguiço do elevador. 
b) Como o desfecho do romance se relaciona com esse episódio?


(Respostas em http://estaticog1.globo.com/2012/01/15/unicamp/anglo/Q11.pdf)






Unifesp 2010

Instrução: As questões de números 08 a 12 baseiam-se no trecho de A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós.

Jacinto e eu, José Fernandes, ambos nos encontramos e acamaradamos em Paris, nas escolas do Bairro Latino – para onde me mandara meu bom tio Afonso Fernandes Lorena de Noronha e Sande, quando aqueles malvados me riscaram da universidade por eu ter esborrachado, numa tarde de procissão, na Sofia, a cara sórdida do Dr. Pais Pita.
Ora nesse tempo Jacinto concebera uma ideia... Este príncipe concebera a ideia de que o homem só é “superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E por homem civilizado o meu camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos inventados desde Teramenes, criador da roda, se torna um magnífico Adão quase onipotente, quase onisciente, e apto portanto a recolher dentro de uma sociedade e nos limites do progresso (tal como ele se comportava em 1875) todos os gozos e todos os proventos que resultam de saber e de poder... Pelo menos assim Jacinto formulava copiosamente a sua ideia, quando conversávamos de fins e destinos humanos, sorvendo bocks poeirentos, sob o toldo das cervejarias filosóficas, no Boulevard Saint-Michel.
Este conceito de Jacinto impressionara os nossos camaradas de cenáculo, que tendo surgido para a vida intelectual, de 1866 a 1875, entre a Batalha de Sadowa e a Batalha de Sedan e ouvindo constantemente desde então, aos técnicos e aos filósofos, que fora a espingarda de agulha que vencera em Sadowa e fora o mestre-de-escola quem vencera em Sedan, estavam largamente preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da mecânica e da erudição. Um desses moços mesmo, o nosso inventivo Jorge Calande, reduzira a teoria de Jacinto, para lhe facilitar a circulação e lhe condensar o brilho, a uma forma algébrica:

suma ciência
X = suma felicidade.
suma potência

08. Conforme o pensamento de Jacinto, que ganhou a forma algébrica desenvolvida por Jorge Calande, a concepção de um homem superiormente feliz envolve
(A) a dissimulação da força e da sabedoria.
(B) a busca pela simplicidade.
(C) o conhecimento e o progresso científico.
(D) a dissociação entre progresso e filosofia.
(E) o distanciamento dos preceitos filosóficos.

09. Se a civilização era enaltecida por Jacinto, era de se esperar que, para ele, a vida apartada do progresso
(A) ficaria consideravelmente limitada, reduzindo-se a prática intelectual.
(B) aguçaria a intelectualidade, ampliando a relação do homem com o saber.
(C) daria espaço para o real sentido de viver e de tornar-se uma pessoa feliz.
(D) equilibraria a relação do homem com o saber, permitindo-lhe ser pleno e feliz.
(E) impediria a felicidade do homem, sem, contudo, influenciar a prática intelectual.

10. Considere as afirmações.
I. O Realismo surge num momento de grande efervescência do cientificismo. No texto, isso se comprova pelas referências à vida intelectual e ao desenvolvimento da sociedade do século XIX.
II. Um personagem como Fabiano, de Vidas Secas, conforme descrito no trecho – Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. – seria infeliz na ótica de Jacinto, apresentada no texto.
III. Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Essas palavras de Dom Casmurro, na obra homônima de Machado de Assis, assinalam uma personagem preocupada com o desenvolvimento da erudição, candidata à felicidade postulada por Jacinto.

Está correto o que se afirma em
(A) I apenas.
(B) II apenas.
(C) I e II apenas.
(D) II e III apenas.
(E) I, II e III.

11. Leia os versos de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar.
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!

A leitura dos versos, comparativamente ao texto de Eça de Queirós, permite afirmar que


(A) traduzem a nova ordem social, rechaçando as modificações advindas do cientificismo, atitude contrária à dos camaradas de Jacinto, que se deslumbravam com a modernidade.
(B) apresentam a modernidade numa ótica positivista, fundamentada na observação e experimentação da realidade, o que contraria a visão romântica dos camaradas de Jacinto.
(C) expressam, com certa reserva, os adventos da nova ordem social e tecnológica, ficando implícita a ideia dos camaradas de Jacinto, que eram pouco afeitos ao cientificismo.
(D) fazem uma apologia da modernidade, de forma semelhante ao entusiasmo dos camaradas de Jacinto, deslumbrados com a nova ordem da vida urbana, social e tecnológica.
(E) trazem uma visão apaixonada da realidade, portanto, subjetiva e desprovida da observação e experimentação, atitude comum também aos camaradas de Jacinto.

12. O trecho a seguir é o início do penúltimo capítulo de A Cidade e as Serras.

E agora, entre roseiras que rebentam, e vinhas que se vindimam, já cinco anos passaram sobre Tormes e a serra. O meu príncipe já não é o último Jacinto, Jacinto ponto final – porque naquele solar que decaíra, correm agora, com soberba vida, uma gorda e vermelha Teresinha, minha afilhada, e um Jacintinho, senhor muito da minha amizade. E, pai de família, principiara a fazer-se monótono, pela perfeição da beleza moral, aquele homem tão pitoresco pela inquietação filosófica, e pelos variados tormentos da fantasia insaciada. Quando ele agora, bom sabedor das coisas da lavoura, percorria comigo a quinta, em sólidas palestras agrícolas, prudentes e sem quimeras – eu quase lamentava esse outro Jacinto que colhia uma teoria em cada ramo de árvore, e riscando o ar com a bengala, planeava queijeiras de cristal e porcelana, para fabricar queijinhos que custariam mil réis cada um!


Pelas considerações de Zé Fernandes apresentadas no trecho,é correto afirmar que Jacinto

(A) assumiu um estilo de vida que diverge daquele concebido em Paris. Malgrado algum senão de Zé Fernandes, o amigo via com bons olhos esse novo Jacinto.
(B) formou uma família e se transformou, sem, contudo, abandonar seus preceitos filosóficos tão bem estruturados em Paris, ainda na companhia de Zé Fernandes.
(C) teve seu entusiasmo pela modernidade retirada pela família, razão pela qual sofre, o que faz com que Zé Fernandes se lamente pela situação degradante do antigo amigo.
(D) resolveu dedicar-se à vida junto à natureza, o que, conforme deixa claro Zé Fernandes, não entra em choque com os ideais intelectuais que os jovens conceberam em Paris.
(E) optou por formar uma família longe da cidade e da modernidade. Fica evidente que Zé Fernandes condena com veemência essa opção, que afasta a ambos da intelectualidade.


UNESP 1991
 
"Brancas rochas, pelas encostas, alastravam a sólida nudez do seu ventre polido pelo vento e pelo sol; outras, vestidas de líquen e de silvados floridos, avançavam como proas de galeras enfeitadas; e, de entre as que se apinhavam nos cimos, algum casebre que para lá galgara, todo amachucado e torto, espreitava pelos postigos negros, sobre as desgrenhadas farripas de verdura, que o vento lhe semeara nas telhas. Por toda a parte a água sussurrante, a água fecundante… Espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos, de entre as patas da égua e do burro ..."
(A cidade e as serras, cap. XIII)

Ao longo deste trecho de A CIDADE E AS SERRAS, Eça de Queirós se serve repetidamente da prosopopeia ou personificação, figura que consiste em atribuir a seres inanimados qualidades próprias de seres animados (particularmente qualidades humanas). Releia o trecho e explique o efeito expressivo das prosopopeias ou personificações na descrição das serras e de seus acidentes. Apresente uma passagem do texto para comprovar seu comentário.
 
(Resposta em
 
UFRS 2001
 
Considere o enunciado abaixo e as três possibilidades para completá-lo.

Em "A Cidade e as Serras," de Eça de Queirós, através das personagens Zé Fernandes e Jacinto de Tormes, que vivem uma vida sofisticada na Paris finissecular, percebe-se

I - uma visão irônica da modernidade e do progresso através de descrições de inventos reais e fictícios.
II - uma consciência dos conflitos que a vida moderna traz ao indivíduo que vive nas grandes cidades.
III - uma mudança progressiva quanto ao modo de valorizar a vida junto à natureza e os benefícios dela decorrentes.

Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) I, II e III.
 
Resposta: e

PUC SP 2007
 
O romance "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós, publicado em 1901, é desenvolvimento de um conto chamado "Civilização". Do romance como um todo pode afirmar-se que
a) apresenta um narrador que se recorda de uma viagem que fizera havia algum tempo ao Oriente Médio, à Terra Santa, de onde deveria trazer uma relíquia para uma tia velha, beata e rica.
b) caracteriza uma narrativa em que se analisam os mecanismos do casamento e o comportamento da pequena burguesia da cidade de Lisboa.
c) apresenta uma personagem que detesta inicialmente a vida do campo, aderindo ao desenvolvimento tecnológico da cidade, mas que ao final regressa à vida campesina e a transforma com a aplicação de seus conhecimentos técnicos e científicos.
d) revela narrativa cujo enredo envolve a vida devota da província e o celibato clerical e caracteriza a situação de decadência e alienação de Leiria, tomando-a como espelho da marginalização de todo o país com relação ao contexto europeu.
e) se desenvolve em duas linhas de ação: uma marcada por amores incestuosos; outra voltada para a análise da vida da alta burguesia lisboeta.
 
Resposta: c
 
PUC SP 2007
 
Eça de Queirós escreveu em 1901 o romance "A Cidade e as Serras". A primeira parte da narrativa acontece em Paris; a segunda, em Tormes, Portugal. Nessa obra, Eça se afasta do romance experimental naturalista; abandona, então, no dizer de Antônio Cândido, a crítica ao clero, à burguesia e à nobreza e dá apoio às novas camadas suscitadas pela indústria e vida moderna. Está mais próximo das estruturas portuguesas que tanto criticara. Assim, desse romance como um todo, não é correto afirmar que
a) desde o início, o narrador apresenta um ponto de vista firme, depreciando a civilização da cidade.
b) o personagem José Fernandes (Zé) relata a história do protagonista Jacinto de Tormes, valendo-se de sua própria experiência para indicar-lhe um caminho.
c) Jacinto sofre uma regeneração em contato estreito com a natureza, numa atitude de encantamento e lirismo e integra-se, por fim, na vida produtiva do campo.
d) o personagem protagonista se transforma, mas sente-se incompleto porque não consegue o amor de uma mulher e nem tem a possibilidade da constituição de um lar.
e) o protagonista, supercivilizado, detestava a vida do campo e amontoara em seu palácio, em Paris, os aparelhos tecnicamente mais sofisticados da época.

Resposta: d
 

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