segunda-feira, 18 de junho de 2012

Dinâmica com marchinhas de carnaval, pressupostos e implícitos


As marchinhas de carnaval, por terem uma letra curta e repetitiva, são uma boa pedida para fazer uma dinâmica em sala de aula (já que permitem uma identificação rápida dos termos com os quais o professor quer trabalhar). O ideal é usá-las quando os alunos ainda estiverem em clima de carnaval (para fazer uma revisão do ano anterior, por exemplo). Contudo, como as férias têm o poder de apagar todas as informações das mentes mais atentas, talvez compense guardar a dinâmica para outra época do ano, na qual haja a certeza de que os alunos escutarão as marchinhas e saberão responder às perguntas propostas.
Eu usei as marchinhas para trabalhar com a identificação de pressupostos e implícitos, uma importante ferramenta na construção de uma leitura mais dedicada por parte dos alunos. Entretanto, existem outras opções para esta atividade: identificação de ambiguidades, de juízos de valor, de conectivos (e seus sentidos nas orações), etc.



Só um rápido lembrete antes da explicação do exercício: implícitos são os significados que não estão na superfície do texto e que podem passar despercebidos em uma leitura mais inocente. Por exemplo, se eu digo “Como está calor, não?” para algum aluno sentado próximo à janela, ele pode considerar apenas o sentido explícito de minha fala (e me responder “É verdade, não é?”) ou levar em consideração o seu implícito e abrir a janela. Assim, o implícito pode ser negado. Já o pressuposto é a informação que está pré-suposta ao enunciado e que não pode ser negada. O pressuposto da frase “João parou de fumar” é que ele fumava antes. Negar este pressuposto é negar toda a coerência da frase.

Marchinhas utilizadas:

Cachaça
Mirabeau Pinheiro-Lúcio de Castro-Heber Lobato, 1953

Você pensa que cachaça é água

Cachaça não é água não
Cachaça vem do alambique
E água vem do ribeirão

Implícito 1: O interlocutor da música bebe cachaça como se fosse água (ou seja, é alguém que gosta muito de beber).

Implícito 2: Em época de festas se bebe muito – o interlocutor da música são aqueles que estão pulando carnaval.

Cabeleira do Zezé
João Roberto Kelly-Roberto Faissal, 1963

Olha a cabeleira do Zezé

Será que ele é?
Será que ele é?

Será que ele é Bossa Nova?

Será que ele é Maomé?
Parece que é transviado
Mas isso eu não sei se ele é.

Implícito 1: A homossexualidade de Zezé.

Implícito 2: Associação da Bossa Nova com comportamentos rejeitados pela sociedade, como o homossexualismo.

Implícito 3: Associação entre ter cabelo e ser homossexual.

Corta o cabelo dele!

Corta o cabelo dele!

Implícito 4: Cortar o cabelo representa extinguir a homossexualidade, forma de amor desprestigiada pela sociedade (mais fortemente nos anos 60, quando foi composta a música).

Teu cabelo não nega
Lamartine Babo-Irmãos Valença, 1931

O teu cabelo não nega mulata,

Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega mulata,
Mulata, eu quero o teu amor

Implícito: O preconceito racial. O cantor só se propõe a ficar com a mulata porque tem a certeza de que não “pegará” a sua cor, não se misturará de fato.

A pipa do vovô
A pipa do vovô não sobe mais!
A pipa do vovô não sobe mais!
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás.

Pressuposto: A pipa do vovô subia antes.

A mulher que é mulher
(Klecius Caldas/ Armando Cavalcanti)

A mulher que é mulher
Não quer saber de intriga,
Diga o povo o que disser
É a melhor amiga.

A mulher que é mulher
Não deixa o lar à toa,
A mulher que é mulher
Se o homem errar, perdoa.
E se perdoa,
É porque sabe, muito bem,
Que ele não troca
Por ninguém
O seu amor, o seu carinho.

Pressuposto: as mulheres que não perdoam ao homem, que saem de casa, que gostam de intrigas não são mulheres completas (ou não se adaptam ao conceito de “mulher” defendido pelos autores da canção).

Implícito: o machismo.

Dica: para realizar a dinâmica, faça uma espécie de roda de “batata-quente”. Um objeto passa pela roda e aquele que o estiver segurando quando o professor pausar a música terá de responder quais são seus pressupostos e/ou implícitos.

Um comentário:

  1. Gostei muito da proposta. Marchinhas de carnaval sempre são divertidas devido à popularidade. Quanto ao conteúdo a ser trabalhado é bastante relevante para construção de leitores ativos e críticos. Parabéns.

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